Normalmente, em tudo que é ficção, a vida não é fácil para ninguém. Ultrapassam-se os problemas com maior ou menor dificuldade mas, no fim, as vítimas, ou se quiserem, os bons da fita, acabam sempre por vencer. Numa novela real, que está praticamente no fim, espera-se que o CLUBE DESPORTIVO TROFENSE, o clube da minha terra, passe incólume duma crise, na qual é a principal vítima.
Dizia o meu sábio irmão Rogério, há dias, que mais vale ser rei por um dia do que príncipe para toda a vida. Pois bem, no caso do CD TROFENSE, ter sido rei foi o pior que poderia ter acontecido. Rei em má altura, e suportado no trono pelas pessoas erradas.
Mentiria se dissesse que sou grande adepto do clube que, por estes dias, se encontra ligado às máquinas. No entanto, é o clube da minha cidade, o clube que mantém a sede e o estádio ao fim da minha rua. Para além disso, foi com a camisola do CD TROFENSE que há 16 ou 17 anos dava os primeiros 'chutos' na bola. E o facto de não ter sido muito bem tratado, na altura, tal como o meu irmão Miguel, que jogava nos juniores, não invalidou que me tornasse sócio e fosse ao estádio apoiar as equipas que foi tendo ao longo dos tempos.
Os transportes especiais e as várias romarias são ainda lembradas tanto por mim como pelo meu pai. As idas à Régua, a Recarei, a Alvalade, para a TAÇA DE PORTUGAL, a Chaves e até a Viana do Castelo para defrontar o GD RIBEIRÃO, os intensos jogos na vila situada do outro lado do Ave e em Santo Tirso, a polémica com o VARZIM FC, que pôs a Trofa num estado caótico, e jogadores como NELO, WASSAN, AMORIM, RENATO, JÓ, LANDU, SHÉU, NUNO ROCHA, o guarda-redes RICARDO, ainda MAKI, e outros que ocupariam, também aqui, lugar de destaque, são lembranças que nos enriquecem a memória .
É aliás com saudade, que lembro as subidas, à 2ª DIVISÃO B e pouco depois, à 2ª LIGA e consequente entrada nos escalões profissionais, com o pontapé do VICTOR, nos penaltis, frente ao AD LOUSADA.
A partir daí, e com o clube na 'honra', um tal Rui Silva entrou na direção e, não me atrevendo a adjectivá-lo como pessoa ou como empresário, reparei que a politica tinha mudado e senti que o TROFENSE ia ficar para o futebol português como em anos anteriores tinham ficado... FC TIRSENSE, FC FAMALICÃO, FC FELGUEIRAS, BOAVISTA FC, SC SALGUEIROS, SC CAMPOMAIORENSE e FC ALVERCA, entre outros.
Um clube dos sócios e de uma cidade, como historicamente era conhecido, passou a um clube 'privatizado' e de apenas algumas pessoas. Numa direção mais compradora que vendedora e com objectivos muito fora da realidade, o processo de contratações passou a ser o oposto de até então, com a entrada de jogadores caros e, alguns deles com idade que não prometiam retorno, e jogadores que se revelaram autênticos 'flops'.
E se é certo que a subida à PRIMEIRA LIGA foi uma realidade, é certo também que tanto me encheu de orgulho como de preocupação. Prova disso e numa situação contra-natura, foi com o clube no seu ponto alto que, não me identificando com a sua nova imagem, deixei de pagar as cotas de associado. Nunca estive enganado, e entre os grandes o TROFENSE foi rei... por um dia.
A instituição caiu então num marasmo e a forte queda quase impossibilita uma reação. Com dividas atrás de dividas, a jogadores, que há uma 'eternidade' não pertencem aos quadros, e ao fisco, com o estádio e complexo desportivo penhorados, e com as pseudo alianças, com empresários brasileiros e espanhóis, a não se realizarem, o CD TROFENSE pode cair para os campeonatos regionais, ou, no pior dos cenários, acabar com o futebol.
As forças do concelho da Trofa que se unam mais que nunca e oxalá consigam uma breve solução, pois o clube e a maioria dos seus sócios são os menos culpados de tudo o que se vive. E se a solução for começar do zero, que assim seja. Quem sabe, em breves anos, o CD TROFENSE não volta a atingir o sucesso, como clube dos sócios e de uma cidade.
Para finalizar, desejo que o senhor Fernando Pontes (meu pai), sócio desde sempre, deixe as lágrimas de lado ao ler, nos jornais, a queda do seu clube do coração. E que com ele, se volte a erguer.
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